domingo, 13 de março de 2011

Vinte anos de The Knowledge-Creating Company (II)


Prezados

Nonaka, em seu artigo de 1991, The knowledge-creating company*, chamou atenção de que, de um modo geral, o que impede os gerentes de compreenderem a verdadeira natureza das empresas criadoras de conhecimento e de saberem, muito menos ainda, como gerenciá-las é o fato de não compreenderem o que é o conhecimento, nem o que as empresas devem fazer para explorá-lo.

Infelizmente, o quadro geral não mudou muito nos últimos vinte anos no que diz respeito à compreensão do papel e da importância do conhecimento organizacional.

Antes de Nonaka, muitos autores, Drucker por exemplo, já chamavam atenção para o fato de que os fatores tradicionais de produção – terra, capital e trabalho (mão de obra) – não respondiam mais pela criação de valor das empresas e das nações, na atual sociedade em que vivemos, havendo a necessidade de se considerar o conhecimento como fator de produção.

O problema é que estas coisas ditas assim soltas causam muita confusão na cabeça das pessoas.

Por exemplo, e a dinâmica? onde entra a dinâmica nesta história? Qual a importância da dinâmica quando se discute o conhecimento?

Os modelos da Economia Neoclássica não adotavam a hipótese do equilíbrio estático? Não adotavam apenas os fatores tradicionais de produção?

Por que esta história de um novo fator de produção? Se é mesmo verdade que o conhecimento reside na cabeça das pessoas, da mão de obra, dos recursos humanos, o fator de produção 'trabalho' já não consideraria o conhecimento?

Afinal de contas, de que conhecimento se está falando?

Estas perguntinhas, aparentemente tão inofensivas, causam um estrago danado quando o assunto é Gestão do Conhecimento Organizacional.

O raciocínio é mais ou menos assim: seja lá o que for esta tal de Gestão do Conhecimento, se envolve conhecimento, envolve gente. Se envolver gente é lá com o RH. E aí se danou tudo, por que não é disto que se está falando.

Outra palavra danada é "aprendizado". As empresas aprendem? Então deve ser através das pessoas, dos recursos humanos. Deve ter alguma coisa a ver com desenvolvimento de pessoas. Pronto! De novo! Voltamos à tirania do RH.

Aprendizado e conhecimento são duas palavras normalmente usadas como substantivos, mas que na verdade são verbos. Por isso a dificuldade de conceituar se ao mudarmos nosso estado de conhecimento, aprendemos, ou se ao aprendermos é que mudamos nosso conhecimento.

Se fosse possível imaginar que estamos vivendo uma situação estática, ou seja, uma situação em que nada muda, poderíamos nos abstrair do fato de o conhecimento ser na verdade um ato em contínua construção, o ato de conhecer, um verbo. Poderíamos então imaginar, fazendo uma aproximação grosseira, estarmos lidando com uma coisa estática, um substantivo, que, tal como acontece com muitos bens tangíveis, poderia constituir um estoque. Um estoque de conhecimento, o sonho de muitos. Estoque este, que durante um determinado tempo poderia se manter constante. Passível, assim, de ser capturado.

As duas primeiras frases de The Knowledge-Creating Company,

"Em uma economia onde a única certeza é a incerteza, a única fonte segura de vantagem competitiva duradoura é o conhecimento. Quando os mercados mudam, as tecnologias proliferam, os concorrentes se multiplicam e os produtos se tornam obsoletos quase da noite para o dia, as empresas de sucesso são aquelas que consistentemente criam novo conhecimento, disseminando-o amplamente em toda sua organização e rapidamente o incorporam em novas tecnologias e produtos."

nos chama atenção justamente para o caráter dinâmico do mundo em que hoje vivemos, caracterizado entre outros fatos pela globalização, onde a hipótese simplificadora da estática é cada vez mais grosseira, consequentemente produzindo resultados com erros cada vez mais grosseiros.

Se isto era verdade em 1991, imaginem hoje.

Forte abraço

Fernando Goldman



* NONAKA I. The Knowledge-Creating Company, Harvard Business Review, p. 96-104, Nov.-Dec. 1991.

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