domingo, 31 de outubro de 2010

Reflexão em dia de eleição

Prezados

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam." Arnold Toynbee

Forte abraço

Fernando Goldman

Instituições

Prezados

Na póxima semana, vou apresentar uma palestra no VI SAEPRO, Simpósio Acadêmico de Engenharia de Produção, em Viçosa. O tema da apresentação será “Inovação e Sustentabilidade na Transição para uma Economia de Baixo Carbono”.

Depois da apresentação, pretendo compartilhar os slides aqui para discutirmos um pouco mais este assunto. Para tal, será importante termos uma visão em comum sobre sobre o papel das instituições, pois − como disse North, Douglass North, ganhador do Prêmio Nobel de 1993 − a mudança econômica, como toda a mudança, é um processo e os carreadores desse processo especial, são as instituições da sociedade.

Toda minha conceituação sobre instituições é baseada nas ideias de North.

Para ele, as instituições são criadas pelos seres humanos para estruturar suas interações, a fim de reduzir a incerteza. Aqueles que fazem as regras buscam seus objetivos durante negociações sociais, políticas e econômicas. North (1996, p. 02) define instituições como as regras formais (a Constituição, estatutos, a legislação em geral, regulamentos etc.), as restrições informais (normas de comportamento, convenções e códigos internos de conduta impostos) e as características de execução (enforcement characteristics) de cada um.

North desenvolveu todo um conjunto de ideias sobre as instituições e seu papel na sociedade e em seu trabalho de 1990, Institutions, Institutional Change, and Economic Performance, no qual já chamava atenção para importantes aspectos sobre o papel do conhecimento nas diferentes sociedades.

Em contraposição à ideia de eficiência alocativa, North criou a ideia de eficiência adaptativa, a qual eu considero muito importante, mas depois ele mesmo a explorou pouco.

North conseguiu mostrar que porque as instituições compõem a estrutura de incentivos de uma sociedade, elas definem a forma como o jogo é jogado e a forma como elas evoluem determina a maneira como o jogo é jogado através do tempo. Significa dizer que as instituições têm especial importância quando se busca entender a dinâmica da mudança econômica.

Infelizmente, o termo “instituições” é muitas vezes utilizado na Língua Portuguesa no sentido de grandes organizações. Por isso é bastante útil se distinguir “instituições” de “organizações”.

Segundo North (1996, p. 02), instituições são as regras do jogo e as organizações são os jogadores. Organizações são formadas por grupos de indivíduos unidos por um objetivo comum - por exemplo, as empresas são organizações econômicas, partidos políticos são organizações políticas, as universidades são organizações educacionais e assim por diante.

Para North (1996, p. 02), em linhas gerais, o processo de mudança econômica seria como se segue. As organizações e seus empresários são os atores, pois eles vão introduzir inovações em instituições ou tecnologias, quando perceberem que estas podem melhorar a sua posição competitiva. Suas percepções dependem de conhecimento tácito e são função dos sistemas de crenças que possuem.

North em diferentes trabalhos, mas principalmente em seu livro de 1990, tece uma brilhante discussão sobre como a estrutura institucional define as organizações que serão viáveis em determinado momento do tempo. As organizações existem num mundo econômico da concorrência e, consequentemente, da escassez. O grau de concorrência será o principal determinante dos incentivos dos empresários para inovar influenciando a criação de novas regras institucionais.

Não se deve perder de vista que instituições são regras formais e informais.

Empresas atuando sob condições de monopólios garantidos terão pouco incentivo para inovar. Enquanto isso, mercados competitivos produzirão mais incentivo para inovação. Assim, North mostra que não seriam as condições abstratas de concorrência perfeita da teoria econômica que determinariam os incentivos para atividades inovativas, mas sim o ambiente institucional das organizações. Seu mundo real.

Na teoria proposta por North, a estrutura institucional vigente é a fonte da existência da organização e também determina suas condições de concorrência.

A inovação aqui significa simplesmente uma mudança de tecnologia ou institucional, que é percebida como capaz de melhorar a posição competitiva da organização.

Não necessariamente, North faz questão de destacar, há a implicação de que a melhoria da posição competitiva da organização seja também uma melhoria da sua produtividade. North deixa claro em seus escritos, que poderia até ser, mas também poderia ser, e muitas vezes é, o resultado da restrição à entrada ou a criação de um monopólio ou ainda a simples redistribuição de renda, de alguma forma.

North não distingue em seus trabalhos, as rotinas estáticas das rotinas dinâmicas, nem de evolução ou de melhoria, mas percebe que a inovação organizacional, por vezes, ocorre dentro do quadro institucional existente e às vezes implica alterar, ainda que gradualmente, o quadro institucional. Ele deixa claro que às vezes, a inovação envolve uma mudança na estrutura institucional formal, o que implica especificar a estrutura do sistema político.

Portanto, como seria de se esperar, uma teoria da mudança institucional deve incorporar como parte dela uma teoria do processo político, uma vez que é a política que especifica e impõe as regras formais da economia. Às vezes a mudança institucional envolve uma mudança (geralmente progressiva) em normas informais de negociação.

A análise de North aponta a questão que irá de ser de fundamental importância para a definição de se a organização irá preferir melhorar sua posição competitiva aumentando sua produtividade e consequentemente a produtividade geral, ou se envolvendo em políticas institucionais redistributivas. Tudo vai depender da estrutura de incentivos embutidos na estrutura institucional.

Um exemplo que North gosta muito de apresentar é o da pirataria. Ele diz que se a estrutura institucional começa a recompensar à pirataria, em seguida, as organizações de pirataria brotarão e em competição umas com as outras irão inovar em tecnologia e instituições para se tornarem piratas mais eficazes. Inversamente, se a estrutura institucional recompensar a atividade produtiva, as empresas vão evoluir para desenvolver uma atividade produtiva e inovações tecnológicas ou institucionais para melhorar a produtividade.

Os preços relativos implícitos nas duas alternativas, no exemplo de North, determinam a direção da mudança e na medida em que mudam, assim mudará a direção da economia.

As ideias de North estão muito alinhadas com as ideias que mostram como se dá a construção e a mudança de paradigmas, ao se perguntar: se as instituições e a forma como elas evoluem são a chave para o desempenho econômico através do tempo o que determina a maneira como elas evoluem? A resposta imediata é que os empreendedores individuais, que estão na posição de modificar as regras do jogo nos mercados político ou econômico e têm as teorias implícitas ou explícitas sobre as consequências dessas políticas, agem de acordo com suas teorias para modificar as regras para melhorar sua posição competitiva. As percepções dos empresários moldam suas políticas e ao longo do tempo é a forma como evoluem estas percepções que determina a forma como as instituições evoluem.

Por fim, é importante perceber que North não desconsidera o caráter de incerteza e racionalidade limitada que acompanha todo o processo descrito, pois ele mesmo afirma que não há nenhuma implicação de que os resultados das escolhas que são feitas vá coincidir com as intenções. Segundo ele, na verdade, não raramente, os sistemas de crenças, que fundamentam a percepção, produzem resultados indesejados e imprevistos.

Forte abraço

Fernando Goldman

North, D.C. Economic Performance Through Time: The Limits to Knowledge, 1996.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Conhecimento como fator de produção

Prezados

Um seguidor deste blog me pediu uma colaboração para o seu TCC. Que eu escrevesse alguma coisa sobre o conhecimento como criador de valor. Na verdade, trata-se de uma excelente oportunidade para uma postagem.

Um bom ponto de partida é lembrar que a economia neoclássica não reconhecia o conhecimento como fator de produção e, portanto, como elemento de criação de valor.

O mundo visto pela teoria econômica neoclássica é estacionário e considera apenas os fatores tradicionais de produção: terra, capital e trabalho. Em tal mundo, as empresas são essencialmente passivas, apenas se adaptam às influências naturais e sociais que podem estar agindo sobre elas.

Na teoria econômica ortodoxa, as empresas são vistas como operando conforme regras de tomada de decisão - de escolha racional - refletindo um comportamento "maximizador", que é um pilar estrutural dos modelos ortodoxos.

Por tudo isso, a economia neoclássica não pode dizer muito sobre os fatores que explicam a mudança econômica.

A teoria econômica neoclássica limita-se ao estudo dos processos estacionários, não podendo ir além de demonstrar como os desvios do equilíbrio podem ser gerados por um crescimento da população ou da riqueza. Aquela teoria apenas ajusta as forças que restauram o sistema para um caminho de equilíbrio.

Na economia neoclássica a mudança tecnológica é exógena. Significa dizer que a própria firma não seria capaz de criar assimetrias de conhecimento. Em geral, os economistas preferem dizer assimetrias de informação. Assim, para a economia neoclássica, ocasionalmente choques tecnológicos perturbam as condições de equilíbrio do sistema e as empresas não deveriam ser capazes de alterar intencionalmente suas tecnologias.

Desse modo, se o processo central no qual estão interessados alguns pesquisadores é a inovação, isto significa que a modelagem econômica estática é de valor limitado para a análise que pretendem.

Alguns autores consideram que os primeiros indícios de que havia alguma peça faltando no quebra-cabeça vieram com a percepção do resíduo.

As investigações empíricas de Moses Abramovitz (1956 apud Antonelli, 2007, p. 5) e Robert Solow (1956 apud Antonelli, 2007, p. 5) mostraram que mais de 50% do crescimento da produção na economia americana, por trabalhador, entre o final do século XIX e na primeira parte do século XX não poderiam ser conciliados com o crescimento dos insumos. Esta diferença é comumente referida como resíduo ou residual.

O resíduo tornou-se um desafio dentro da economia neoclássica, devendo ser creditada boa parte daquele crescimento econômico impressionante à mudança tecnológica. Tornou-se assim evidente que a economia do equilíbrio é capaz de explicar apenas uma fração do sistema econômico. Para Antonelli (2007, p. 06), a descoberta do resíduo pode ser interpretado como o nascimento da Economia da Inovação.

Antonelli (2007, p. 11) cita Arrow e uma primeira tentativa de lidar com o “residuo” no quadro neoclássico. Segundo ele, Arrow (1962 apud ANTONELLI, 2007, p. 11), nesta tentativa, estabeleceu as bases para uma teoria do crescimento econômico baseado em processos de “learning-by-doing”, que possibilitam a geração de novos conhecimentos e, eventualmente, a introdução de novas tecnologias.

No entanto, a busca da compreensão de fenômenos dinâmicos está presente na quase totalidade dos trabalhos que enfrentam as limitações da teoria neoclássica na análise da inovação nos níveis da empresa, do setor econômico ou nacional.

É o entendimento do conhecimento como o elemento dinâmico que possibilita entender que não é possível lidar com as inovações usando apenas o referencial rigorosamente estático de análise do equilíbrio neoclássico.

Conforme Antonelli (2007, p. 08), a inovação não ocorre quando e onde as firmas são vistas como usuárias passivas da tecnologia fornecida, capazes apenas de selecionar as técnicas mais adequadas, mas sim quando e onde são vistas como agentes capacitados a gerar suas próprias tecnologias.

Reside aí a importância de reconhecer o conhecimento como fator de produção capaz de criar valor e de entender a capacitação para a criação do Conhecimento Organizacional pela firma como um dos seus elementos de diferenciação.

Forte abraço

Fernando Goldman

Referências:

ANTONELLI, C. The foundations of the economics of innovation. Working paper Nº 02/2007, Turin: University of Turin, 2007.

GOLDMAN, F. L. Podemos ainda aprender com Nonaka e Takeuchi? Artigo em fase de publicação

Revisado em 23.10.2010 às 11:35

O Brasil de hoje

Prezados

Vendo a propaganda eleitoral e a falta de um projeto de Brasil em ambas as campanhas presentes no segundo turno, não há como deixar de lembrar uma frase de Celso Furtado, que me parece mais atual do que nunca, apesar de ter sido dita, naturalmente, antes do grande pensador nos deixar:

Nunca foi tão grande a distância entre o que somos e o que poderíamos ser

Forte abraço

Fernando Goldman

sábado, 16 de outubro de 2010

O Mainstream da Gestão do Conhecimento

Prezados

Existem muitas diferentes abordagens de Gestão do Conhecimento Organizacional (KM). Isto em princípio pode parecer natural, pois levando-se em conta que o Conhecimento Organizacional é específico de cada organização, nada mais esperado do que cada empresa ter sua própria maneira de lidar com o assunto.

Isso, no entanto, não propicia que cada uma das diferentes abordagens observadas esteja correta, ou melhor, produza resultados adequados.

Mais lamentável é a constatação de que a grande maioria das abordagens de KM se alinha àquilo que eu chamo genericamente de mainstream da KM. Elas vêem o conhecimento como algo estático e têm dificuldade para diferenciar entre o conhecimento dos diversos indivíduos da organização e o Conhecimento Organizacional.

Outra característica marcante das abordagens do mainstream da KM é a de não conseguirem também diferenciar adequadamente informação e conhecimento. Estas abordagens se declaram focadas em todos os verbos entendidos por elas como aplicáveis ao conhecimento: criar, descobrir, capturar, compartilhar, destilar, validar, transferir, aprovar, adaptar, proteger, aplicar etc.

Na prática, o mainstream é focado de verdade mesmo em apenas três verbos: Capturar – Codificar – Compartilhar, como bem destacam McElroy e Firestone. Não passam disto. A partir da ingenuidade de que o conhecimento é alguma coisa e como tal poderia ser capturado, vamos vendo rios e rios de dinheiro sendo gastos bobamente na expectativa de conseguir “reter” o conhecimento daqueles que podem, por alguma razão, sair a qualquer momento da empresa.

Destacam-se neste triste cenário, os chamados planos de retenção de conhecimento, muito comuns em grandes empresas com grande número de funcionários a beira da aposentadoria e que tanta frustração têm causado às empresas.

Desnecessário dizer que o mainstream da KM vai pouco a pouco se revelando completamente destituído de resultados práticos − no curto ou no longo prazo − ao pretender separar o conhecimento do conhecedor, não percebendo o caráter paradoxal do conhecimento.

Segundo Nonaka e seus coautores, a organização de uma empresa cria novos conhecimentos por meio da síntese, um processo dialético, contínuo e dinâmico, que se nutre dos paradoxos, convertendo o conhecimento tácito em explícito e vice-versa.

As abordagens do mainstream de KM não conseguem reconhecer o conhecimento organizacional como algo que emerge do conhecimento dos diferentes agentes, que compõem a organização em cada diferente momento.

Assim, as diferentes abordagens do mainstream de KM não se sustentam, tendo dificuldades para explicarem a si mesmas, mesmo nas empresas mais retrógradas, pois acreditam que seu objeto é o conhecimento e não percebem que KM só faria sentido como um metaprocesso, cujo objeto fosse os programas, políticas e processos que afetam a qualidade da emergência do conhecimento organizacional.

Talvez naquilo que seja seu pior aspecto, as abordagens do mainstream de KM não conseguem se caracterizar como precusoras das inovações, na medida que estas são inerentemente dinâmicas, não podendo se originar do simples armazenamento de informações.

Forte abraço

Fernando Goldman