sábado, 18 de dezembro de 2010

Em relação ao comentário do Prof. Carlos Lessa


Resposta para a postagem "O Brasil, a energia e a "merda" de Rodrigo Vianna no site da Carta Capital de 9 de dezembro de 2010 às 10:00h, disponível em http://www.cartacapital.com.br/politica/o-brasil-a-energia-e-a-%e2%80%9cmerda%e2%80%9d#comments a respeito de comentários feitos pelo professor Carlos Lessa:

Fernando Luiz Goldman disse:

Prezado Rodrigo

Estive presente no seminário e parabenizo a todos pela qualidade do mesmo. Em especial, foi um prazer ouvir novamente o professor Carlos Lessa, de quem sou fã de carteirinha, mesmo sem nunca ter sido seu aluno.

Porém, homens brilhantes como ele podem algumas vezes e durante algum tempo se deixar enganar. O Professor Lessa me pareceu ter se deixado envolver pelo rolo compressor da "solução hidrelétrica" no Brasil e apresentou uma opinião absolutamente correta com uma conclusão um tanto duvidosa.

Ele tem toda razão quando declara ser imbecil se construir grandes barragens com pequenos lagos, mas errou ao atribuir a culpa de tal situação aos ambientalistas.

Parece pura burrice construir grandes barragens com pequenos reservatórios? Talvez não seja. Pelo menos não para alguns que de um jeito ou de outro acabam se beneficiando da execução da obra. E o bode expiatório já está escolhido. A culpa é dos ambientalistas, que, segundo os beneficiados, não gostam de grandes lagos de hidrelétricas e fazem exigências "descabidas" e de altos custos – financeiros, sociais e ambientais – para viabilizar um lago com volume, capaz de garantir a capacidade de armazenamento compatível com a potência instalada da usina.

Desconsidera-se assim o fato elementar de que no paradigma de geração centralizada e otimização energética – ainda utilizado no Brasil, calcado em grandes usinas e grandes obras de transmissão – para analisar a viabilidade de uma obra de geração não basta analisar a potência instalada da mesma. Deve-se paralelamente analisar a capacidade de armazenamento de água da usina, ou seja, sua energia firme, para não se ficar constantemente refém das condições climáticas.

Assim, o que deveria ser um simples critério de análise da viabilidade de um empreendimento, uma simples avaliação de custo-benefício, é totalmente distorcido e substituído por acusações aos ambientalistas, como se coubesse a eles culpa pelo fato de a solução de grandes hidrelétricas estar cada vez menos sustentável, deixando de ser competitiva.

Na mais clara utilização da chamada "arte da acusação invertida" argumenta-se que os ambientalistas não gostam de grandes lagos hidrelétricos, o que obriga o governo, pobre vítima da situação, a construir usinas com grande potência instalada, porém com pequenos lagos e consequentemente a licitar termelétricas, quando na verdade o problema se trata do absurdo de construir grandes e custosas barragens, atendendo os interesses de grandes empreiteiros, em geral sócios dos empreendimentos, sem um lago adequado. O importante é construir, não importando se faz sentido ou não.

Foge-se de se submeter a uma análise mais abrangente de sustentabilidade o empreendimento e concorrer com outras soluções de energia, mais atuais e cada vez mais competitivas.

Significa acima de tudo, abrir mão do potencial brasileiro para a transição pra uma economia de baixo carbono, pela inovação e competitividade, que poderia ser benéfica a todos brasileiros, em nome da manutenção de um modelo que já apresentou bons resultados décadas atrás, em outro contexto, mas que hoje está ultrapassado, se mostrando concentrador de rendas.

Pelo que conheço da obra e das idéias do professor Carlos Lessa, não creio que ele tenha ainda atentado para todos os detalhes envolvidos.

Forte abraço

Fernando Goldman

3 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Uma análise de um sistema deste porte de complexidade e de "interesses", foge à percepção da população.
Se não fosse tua intervenção clara também eu, teria "embarcado" na visão do professor.
Lí ontem todos os comentários ao post do Rodrigo. Os que tratam das termelétricas, bastante interessantes, também evidenciam o mesmo problema principal que é "fazer obras", independentemente de seu benefício à população ou ao meio ambiente.
Bastante enriquecedor teu comentário.
Forte abraço
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Obrigado Ferdinand!

Ferdinand disse...

Fernando, Bom dia!
Neste tema veja a palestra TED do Bill Gates on energy: Innovating to zero!
Este é um cidadão "que faz", e não ia ficar despejando abobrinhas.
Muito interessante a proposta.

Um Feliz Natal para todos os leitores!
Forte Abraço
Ferdinand