sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Anna Grandori e as heurísticas

Prezados

Ontem tivemos a excelente apresentação da Anna Grandori, na Casa de Ciência da UFRJ. O evento foi promovido pelo INCT-PPED. Para quem ainda não sabe, a sigla se refere ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Estratégias e Desenvolvimento.

Para quem pensa em Gestão do Conhecimento (KM) como alguma coisa relacionada a organizar treinamentos, fica meio difícil mesmo imaginar o que KM tem a ver com políticas públicas. Aos poucos, vamos superando isso.

A Anna Grandori é considerada um dos expoentes do tema Knowledge Governance e é reconhecida como a primeira pesquisadora a usar o termo.

Ela falou do notável hiato entre o que ela chama de paradigma da ‘escolha racional’ e o paradigma da ‘tomada de decisão comportamental’. Para ela, o elemento faltante seria a heurística.

Como a Anna não usa a epistemologia de Polanyi, vale a pena traduzir este hiato em termos de conhecimento tácito e explícito.

A decisão racional é aquela baseada na racionalidade, que seria a qualidade de ser consistente com a lógica, ou baseada nela. Seria, portanto, o esforço de decisão que esgota todas as informações potencialmente relevantes, a fim de tomar decisões de forma transparente, lógica e objetiva, podendo ser bem explicada e justificada ,ou seja, baseada em conhecimento predominantemente explícito.

A tomada de decisão comportamental diria respeito a contextos reconhecidamente de racionalidade limitada, onde os agentes precisam tomar decisões, que muitas vezes não conseguem explicar e/ou justificar totalmente, ou seja, baseada em conhecimento predominantemente tácito.

As heurísticas são um importante componente do meu modelo da dinâmica do conhecimento organizacional, por isso, mesmo tendo algumas restrições ao arcabouço epistemológico dos autores da Knowledge Governance, achei ótimo conhecer algumas das ideias dela sobre heurísticas, tema, aliás, que Nelson & Winter desenvolveram muito bem, usando as ideias de Polanyi.

A Anna vem procurando desenvolver um modelo para enriquecer a noção e o repertório de heurísticas que são normalmente considerados nas ciências econômicas e cognitivas com a noção de heurísticas normalmente considerados na filosofia da ciência e da lógica da descoberta.

Quem costuma ler as postagens deste blog, vai perceber uma certa semelhança com algumas das ideias que eu aqui defendo.

O modelo da Anna procura dar uma resposta para a pergunta, segundo ela, ainda sem resposta de como o conhecimento, no qual a racionalidade e a sabedoria de qualquer decisão dependem em grande parte, pode ser construído de uma forma válida e confiável. Em outras palavras, como o conhecimento pode ser uma crença justificada (válida e confiável, mesmo que provisoriamente) em uma verdade.

Na opinião dela, a correta conceituação das heurísticas, como elemento capaz de guiar, eficaz e eficientemente, a descoberta econômica e a inovação parece estar atrasada em uma economia dita intensiva em conhecimento e orientada para a inovação.

Nisto, eu concordo com ela plenamente.

Forte abraço

Fernando Goldman

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