domingo, 3 de outubro de 2010

Anna Grandori e as heurísticas (II)

Prezados

Muitos textos sobre Gestão do Conhecimento começam dizendo que hoje vivemos em uma sociedade onde a economia é baseada no conhecimento. O trabalho da Anna Grandori vem chamando atenção para o fato de que, em assim sendo, seriam centrais fatores tais como: a inovação, a pesquisa, o design, a descoberta, e assim por diante. Ela diz que, no entanto, o entendimento do que ela chama de ‘lógica da descoberta econômica’ não é uma preocupação central nos modelos econômicos dominantes, sejam os de escolha racional, sejam nos de tomada de decisão em contextos de racionalidade limitada e incerteza.

Herbert Simon chamou atenção para a importância da racionalidade limitada, que ele estudou em seus muitos trabalhos. Simon foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia de 1978, por suas pesquisas precursoras. Ele, em 1959, por exemplo, chamou atenção de que o modelo da teoria econômica neoclássica - que considera a decisão econômica em grande parte como uma simples "escolha" de soluções disponíveis para problemas bem definidos, ou seja, uma escolha racional - nem sempre se mostra o mais adequado.

Simon mostrou precisarmos, quando a percepção e a cognição intervêm entre o decisor e seu ambiente objetivo, de uma descrição do processo de escolha que reconheça que as alternativas não são dadas, devendo ser buscadas, assim como uma descrição que leve em consideração a árdua tarefa de determinar quais as consequências que se seguirão em cada alternativa.

Como destacado no artigo do Flávio Vasconcelos, ‘Da Gestão do Conhecimento à Gestão da Ignorância: uma visão co-evolucionária’, estudado no mês de agosto na comunidade virtual da SBGC-RJ (http://br.groups.yahoo.com/group/sbgcrj/), o conhecimento não se compõe somente de respostas e de know-how, mas também de indagações, questões, dúvidas e incertezas.

Para Anna Grandori, as duas principais abordagens predominantemente utilizadas para compreender a tomada de decisões econômicas - o paradigma da "escolha racional", na economia, e o paradigma da "racionalidade limitada", na ciência comportamental - na verdade, não são particularmente bem equipados para explicar e orientar a descoberta e a invenção.

Por um lado, os modelos econômicos de escolha racional formatam a decisão econômica em grande parte como uma "escolha" em problemas bem definidos, dando pouca atenção aos problemas epistêmicos de construção do conhecimento.

A tradição comportamental, por outro lado, salienta que a 'pesquisa' e 'descoberta' de alternativas é no mínimo tão importante, se não mais, do que as escolhas entre alternativas conhecidas.

No entanto, segundo Grandori, essa tradição tem dedicado muito mais atenção aos atalhos comumente seguidos, as regras práticas e as rotinas - métodos rápidos (e muitas vezes sujos, como ela os define) capazes de reduzir o esforço cognitivo e os custos de pesquisa - e muito menos atenção para um outro método, que seria uma melhor classe de heurísticas, ou seja, métodos racionais de pesquisa que visem produzir conhecimento válido e confiável.

O trabalho da Anna Grandori busca precisamente destacar alguns dos possíveis tijolos de uma abordagem de ‘heurística racional’, indo beber na fonte de um campo onde este problema sempre foi central e recebeu excelentes tratamentos lógicos e epistemológicos, ou seja, a filosofia da ciência.

Para Anna, recorrer a esta tradição pode revigorar a busca de uma melhor compreensão do papel do conhecimento como fator de produção, porque na a filosofia da ciência os termos "racionalidade" e 'heurística' têm significados mais amplos e o tipo de incerteza considerada é mais forte do que em ciências econômicas.

Forte abraço

Fernando Goldman

Ver também Anna Grandori e as heurísticas

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