domingo, 27 de junho de 2010

O Apagão das Engenharias e da Física no Brasil - 1

Prezados

Ano passado fui convidado a participar da mesa da SBGC no SINCONEE cujo tema era "O Apagão das Engenharias". De lá para cá duas crises de coluna, um doutorado, o trabalho e muita pesquisa me deixaram distante do assunto.

Hoje pela manhã, recebi do Prof Dr Heitor M. Quintella e-mail com o assunto "País perde US$ 15 bi com má formação de engenheiro e falta de fisicos para gerar mais posições de engenharia".

Vou iniciar aqui uma sequência de postagens sobre este importante assunto.

Nesta postagem reproduzo a notícia que motivou a troca de e-mails citada.

Forte abraço

Fernando Goldman

FOLHA, 21 de Junho de 2010.

País perde US$ 15 bi com má formação de engenheiro

Valor é estimativa dos prejuízos com falhas nos projetos de obras públicas

A baixa qualidade do ensino médio, sobretudo em disciplinas como física, química e matemática, tornou-se obstáculo para a formação de engenheiros no Brasil. Essa falha, agravada pela alta demanda gerada com o crescimento do país, tem custo - e não é pequeno.

Cálculos de entidades de engenharia mostram que o país perde US$ 15 bilhões (R$ 26,5 bilhões) por ano com falhas nos projetos das obras públicas. A cifra, equivalente a 1% do PIB, foi apresentada em encontro nacional de engenheiros, em Curitiba, na semana passada.

A reunião levou à capital do Paraná 850 engenheiros de todo o país com o único propósito: buscar meios de frear a crise sem precedentes da engenharia nacional.

Guerra

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) calcula que 150 mil vagas de engenheiros não terão como ser preenchidas até 2012.
Tamanha demanda diante da falta de profissionais criou uma guerra por engenheiros.
>>
Em 2003, a formação de um engenheiro custava US$ 25 mil. Hoje, US$ 40 mil, diz a IBM, uma das empresas que mais contrataram engenheiros e técnicos de computação desde quando o Brasil tornou-se base mundial para oferta de serviços.

Essa escassez já atinge a competitividade brasileira. "Em 2009, exportamos US$ 1,5 bilhão em serviços. Só a IBM respondeu por US$ 500 milhões. A Índia exportou US$ 25 bilhões", disse
Paulo Portela, vice- presidente de Serviços da IBM, em seminário promovido pela Amcham, em
São Paulo.
"Essa disputa [por engenheiros] não ajuda. Vamos perder se entrarmos numa guerra e ampliar a inflação dos custos da mão de obra." O salário inicial, de R$ 1.500 em 2006, já atinge R$ 4.500.

Evasão

O diagnóstico da realidade nos 1.374 cursos no país mostra que a evasão nos cursos de engenharia é de 80%; dos 150 mil que ingressam no primeiro ano, 30 mil se formam.

"Só um 1 em cada 4 possui formação adequada. O Brasil forma menos de 10 mil engenheiros com competência e esses são disputados pelas empresas", diz José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP, uma das mais importantes faculdades de engenharia do país.

A Amcham (Câmara Americana de Comércio) quer o tema na campanha eleitoral.

O documento com o diagnóstico e as propostas compiladas por Jacques Marcovitch, professor da USP e conselheiro do Fórum Econômico Mundial, será entregue ao governo e aos candidatos.


É certo que ficará para o próximo governo a busca da resposta para a pergunta: "Por que o jovem quer ser médico e advogado e não quer ser engenheiro e professor de matemática?".

Exemplo de baixa procura pela área ocorreu em concurso para professor de física em São Paulo. De 931 vagas, só 304 foram preenchidas.

Sem oferta, indústria "caça" engenheiro

Pesquisa do Ibope encomendada pela Amcham aponta que 76% das empresas no Brasil possuem programas de treinamento e formação de mão de obra.

Boa parte desses gastos assegura o futuro engenheiro na companhia. A mineradora Vale, que só em 2010 prevê investimento total de US$ 12,9 bilhões, deu escala a esse modelo.

A mineradora criou cursos de pós-graduação para atrair engenheiros com até três anos de formado. Cada um recebe bolsa de R$ 3.000 para especialização em engenharia de mina, ferrovia, porto e agora pelotização (transformação de finas partículas de minério em pelotas).

Marcelo Brandão, engenheiro ambiental, e Fabio Witaker, engenheiro mecânico, são exemplos recentes. Foram contratados em fevereiro depois de curso intensivo de engenharia ferroviária.

Aproximar-se da academia tem sido a solução. A montadora General Motors é uma das impresas mais agressivas nesse campo. Com a instalação no Brasil de 1 dos 5 centros mundiais de desenvolvimento de produto , a montadora teve de ampliar de 600 para 1.300 o número de
engenheiros.

Acordo

Um acordo com a Escola Politécnica da USP, um dos principais centros de formação de engenheiros no Brasil, deu à GM uma vantagem.
Os estudantes de engenharia da Poli aprendem a desenhar carros no sistema GM de projetar
veículos.

"Quando esses estudantes saírem da universidade, estarão prontos, com parte do treinamento executado", diz Pedro Manuchakian, vice- presidente de Engenharia de Produtos da General Motors na América do Sul.
>> Com planos para criar centros de pesquisa no Brasil,
General >> Electric e
>> IBM correm para atrair profissionais. A IBM vai repatriar
50 >> cientistas
>> brasileiros.
>>
>> O novo laboratório anunciado há duas semanas
exigirá cem
cientistas, >> alguns dos quais engenheiros.
>>
>> "É uma operação de guerra", disse Paulo Portela,
vice-presidente de >> Serviços da IBM. De 3.800
funcionários
em 2003, a IBM expandiu para >> 21
>> mil. A empresa já treinou 60 mil pessoas, das quais
contratou 10 mil. >>
>> Conteúdo nacional
>>
>> A GE também tem planos igualmente fortes no país,
sobretudo para >> ampliar o
>> conteúdo nacional de componentes usados em seus
equipamentos. A >> empresa
>> também anunciou um centro de pesquisa no país, onde
contratará 150 >> engenheiros.
>>
>> Segundo Alexandre Alfredo, diretor de relações
institucionais, a >> companhia
>> foi buscar profissionais em quatro universidades: as
paulistas USP e >> Unicamp e as federais do Rio e de Minas
Gerais. >>
>> Governo quer reduzir evasão nos cursos
>>
>> A principal meta do governo nos próximos três anos
é
elevar de 30 >> mil para
>> 40 mil o número de graduados em engenharia no Brasil. A
tarefa foi >> entregue à Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível >> Superior). A
instituição criou uma comissão para cumprir esse >>
objetivo. >>
>> Segundo o coordenador da Capes, Jorge Almeida
Guimarães,
há dois >> problemas
>> centrais na crise da engenharia brasileira.
>>
>> A primeira é a precária formação no ensino
fundamental e
médio, com >> grandes deficiências em disciplinas
básicas
das chamadas ciências >> duras,
>> como física, química e matemática.
>>
>> A segunda é consequência da anterior. A falta de boa
formação no >> ensino
>> médio tem provocado evasão maciça nos cursos de
engenharia. "A >> primeira
>> missão será garantir que o aluno fique no curso",
disse
Guimarães. >>
>> A Capes vai pedir auxílio à Petrobras para alcançar
essa
meta. A >> estatal,
>> responsável por grande parte da demanda brasileira por
engenheiros, >> é uma
>> das empresas mais interessadas em ampliar a formação
desses >> profissionais.
>> Só assim conseguirá pôr em marcha planos de
investimentos
de US$ 200 >> bilhões nos próximos cinco anos.
>>
>> A comissão da Capes estuda repetir iniciativa hoje já
usada por >> grandes
>> corporações e bancar a permanência dos alunos nos
cursos.
>>
>> A ampliação em 10 mil engenheiros em três anos é
uma meta
modesta >> para as
>> necessidades nacionais.
>>
>> Os países que fazem concorrência com o Brasil no
mercado
>> internacional
>> formam contingentes muito maiores de engenheiros. Por ano
, a China >> forma
>> 400 mil engenheiros, a Índia, 250 mil, e a Coreia do
Sul,
80 mil. >>
>> Iniciativas
>>
>> Jacques Marcovitch, professor da USP, listou iniciativas
com o >> objetivo de
>> modernizar a engenharia nacional em documento a ser
entregue pela >> Amcham
>> (Câmara Americana de Comércio) aos presidenciáveis.
>>
>> O desafio de todas é inverter a avaliação atual do
diretor da Poli, >> José
>> Roberto Cardoso: "Engenheiros de menos. Escolas de mais".
>> (Agnaldo Brito)
>> (Folha de SP, 21/6)FOLHA, 21 de Junho de 2010.

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