sábado, 6 de junho de 2009

(Mensagem para os inicantes) É possível explicitar conhecimento tácito ?


Esta mensagem foi publicada na Mesa de Debates 2 do 7º SENAED em Qui, 28 de Mai de 2009 12:56 am

Assunto: (Mensagem para os inicantes) É possível explicitar conhecimento tácito ?
Mensagem de: Fernando Goldman
Empresa: SBGC - RJ
Tipo de participação: ( X ) Integrante de Mesa ( ) Participante
Em resposta a: - - - Mensagem - -

Prezados

Os comentários que farei a seguir são para aquelas pessoas que têm ainda pouca vivência com Gestão do Conhecimento.

Estão participando deste debate muitas pessoas que na apresentação me informaram estar participando da mesa para começar a estudar GC. Assim, é importante que entendam que as muitas pessoas que aqui falaram sobre conversão de conhecimento tácito em explícito, falaram de uma forma simplificada sobre um modelo proposto por Nonaka e Takeuchi, a espiral do conhecimento. Depois de um certo tempo, a gente se descuida de certos cuidados conceituais, mas para quem ainda está começando é importante observar o que se segue.

Eu disse que há gente pensando em fazer Gestão do Conhecimento sem levar em conta o conhecedor e fiquei preocupado quando notei uma certa dificuldade de identificação de quem é o Conhecedor.

Na EaD Corporativa, na Educação Corporativa e na GCO, o conhecedor é um sujeito que trabalha na empresa, ou trabalhou, e detém conhecimento relevante para ela, pois é capaz de criar vantagem competitiva sustentável. Este é o verdadeiro Conhecedor, e para ser Conhecedor tem de ter conhecimento, tem que ter capacidade de ação eficaz, não basta ter amealhado algumas informações, caso contrário elas podem estar disponíveis no mercado.

Normalmente o Conhecedor trabalha em um grupo, que é inovador. Cria novo conhecimento para a organização. Possibilita que a organização esteja sempre se adaptando às mudanças em seu ambiente organizacional.

É importante entender que a informação mais cedo ou mais tarde estará disponível no mercado. O conhecimento talvez não, pois ele só existe no Conhecedor. Pode ser, em geral é, que a capacitação para criar conhecimento seja uma característica do grupo, mas de qualquer forma ele só existe nos indivíduos que compõe o grupo.

O conhecimento de cada Conhecedor sempre será parte tácito, parte explicitável. O conhecimento que ainda não foi explicitado é chamado por alguns autores de conhecimento implícito.

A diferença entre conhecimento tácito e conhecimento implicito é que o implícito ainda não foi explicitado, não foi ainda transformado em conteúdo, mas pode ser.

O tácito por definição é aquele que não pode ser explicitado. Isto é o que significa o termo tácito.

Vejam bem, o conhecimento tácito é aquele que um indivíduo não pode explicitar para ele mesmo. Assim, ao explicitar o conhecimento tácito, por definição, o conhecedor obterá um conjunto vazio, pois se um conhecimento pode ser explicitado, ele não era realmente tácito. É uma simples questão de lógica.

Todo conhecimento tem um componente tácito, uma parte inefável que não pode ser explicitada. Aliás, para entender isso é preciso entender, melhor dizendo "aceitar", que o conhecimento só existe em seres humanos e é uma capacitação individual e biograficamente determinada. Sem a figura do Conhecedor, não há conhecimento, entendido como capacidade de ação eficaz, há apenas informação.

Vejam bem. Não há aqui qualquer intenção de estabelecer algum tipo de hierarquia se informação é mais ou menos importante do que conhecimento. O fato é que sem uma boa gestão da informação não se faz GC, mas o que cria assimetria entre as firmas é o conhecimento, embora seja comum os economistas se referirem a isso como "assimetria de informação".

Por isso há tanta dificuldade em entender o que é GC. As pessoas querem fazer GC sem levar o Conhecedor em consideração. GC é social.

O conhecimento de cada conhecedor é um diálogo entre uma parte explícita e uma tácita. Quanto mais especializado o conhecimento, quanto mais ele depende de uma linguagem especializada, mais conteúdo não explicitado ele contém. De forma resumida, esse conhecimento que ainda pode ser explicitado e ainda não foi é o chamado conhecimento implícito.

A parte tácita é aquela que muitas vezes nem o conhecedor sabe que sabe, pois depende da vivência do conhecedor, de seus modelos mentais, de sua maneira de ver o mundo, para poder compartilhá-lo há demanda de alinhamento de modelos mentais. Isso explica porque Peter Senge definiu como uma de suas disciplinas do Aprendizado Organizacional os Modelos Mentais.

É muito importante perceber que há algo de muito sutil na idéia da Espiral do Conhecimento (uma dimensão ontológica, indivíduo - grupo - organização) e que Nonaka e Takeuchi não pregam que um conhecedor explicite todo seu conhecimento.

Nonaka e Takeuchi sempre deixaram bem claro que não é assim que funciona. Na página 67 de seu livro na edição brasileira, por exemplo, eles dizem:

" Em nossa visão, contudo, o conhecimento tácito e o conhecimento explícito não são entidades totalmente separadas, e sim mutuamente complementares. ... Nosso modelo dinâmico da criação do conhecimento está ancorado no pressuposto crítico de que o conhecimento humano é criado e expandido através da interação social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito... Não podemos deixar de observar que essa conversão é um processo " social" entre indivíduos, e não confinada dentro de um indivíduo ."

Resumindo, o pulo da gato aqui é entender como a EaD Corporativa pode colaborar neste processo.


Forte abraço

Fernando Goldman

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