segunda-feira, 1 de setembro de 2008

É possível explicitar conhecimento tácito?

Prezado Osmar

Seja também bem vindo ao fórum da SBGC. É ótimo que gente nova venha se juntar a nós, buscando debater sem medo os conceitos da Gestão do Conhecimento Organizacional(GC).

A Prof. Marisa Eboli, no número 155 da Revista T&D, cita o caso da Caterpillar, que descobriu ser o medo de parecer tolo, por causa da tecnologia, uma das principais barreiras para participação em suas comunidades de prática.

Assim, fique bem à vontade, pois esse é um fórum bem aberto e mesmo as supostas quebras de protocolo podem contribuir para aumentar nossa compreensão da GC. Só não precisa me chamar de Sr. Goldman, pois aí já é covardia.

Quanto a seus comentários, todos muito pertinentes por sinal, lembrei que durante a apresentação de trabalhos científicos do KM Brasil 2008, chamou minha atenção uma insistência na idéia de "explicitar conhecimento tácito".

Talvez por minha formação básica na área de ciências exatas e minha paixão pela lógica formal, eu insista na idéia de que isso simplesmente não existe.

Veja bem, o conhecimento tácito é aquele que não pode ser explicitado. Assim, ao explicitar o conhecimento tácito, por definição, obteremos um conjunto vazio, pois se um conhecimento pode ser explicitado, ele não era tácito.

Todo conhecimento tem um componente tácito, uma parte inefável que não pode ser explicitada. Aliás, para entender isso é preciso entender, melhor dizendo "aceitar", que o conhecimento só existe em seres humanos. Sem a figura do Conhecedor, não há conhecimento, entendido como capacidade de ação eficaz, há apenas informação.

Veja bem. Não há aqui qualquer intenção de estabelecer algum tipo de hierarquia se informação é mais ou menos importante do que conhecimento. O fato é que sem uma boa gestão da informação não se faz GC.

Por isso há tanta dificuldade em entender o que é GC. As pessoas querem fazer GC sem levar o Conhecedor em consideração.

O conhecimento de cada conhecedor é composto por uma parte explícita e uma tácita. Quanto mais especializado o conhecimento, quanto mais ele depende de uma linguagem especializada, mais conteúdo não explicitado ele contém. De forma resumida, esse conhecimento que ainda pode ser explicitado e ainda não foi é o chamado conhecimento implícito.

A parte tácita, aquela que muitas vezes nem o conhecedor sabe que sabe, pois depende da vivência do conhecedor, de seus modelos mentais, de sua maneira de ver o mundo, demanda alinhamento de modelos mentais. Isso explica porque Senge definiu como uma de suas disciplinas do Aprendizado Organizacional os Modelos Mentais.

Aqueles que leram Nonaka e Takeuchi superficialmente devem revisitar aqueles autores e perceber que há algo de muito mais sutil na idéia da Espiral do Conhecimento e que eles não pregam que um conhecedor explicite todo seu conhecimento.

Forte abraço

Fernando Goldman


Obs.: Mensagem originalmente publicada no Fórum da SBGC, em 01/09/2008.

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