sexta-feira, 6 de julho de 2007

Conhecimentos Explícito e Tácito

Mensagem originalmente postada no Fórum da SBGC em 25/05/2006

Bom dia Ricardo

Embora esteja percebendo que você já recebeu algumas respostas à sua pergunta, todas muito interessantes, permito-me lançar mais algumas idéias, não só no sentido de ajudá-lo com sua dúvida, mas também, quem sabe, para que possamos detalhar mais o tema, nesse fórum.

Gestão do Conhecimento é o nome dado a um conjunto de práticas que procuram gerenciar as circunstâncias que o conhecimento precisa para prosperar na organização. Um de seus focos principais consiste na análise da relação entres os conhecimentos explícito e tácito da organização e suas formas de conversão.

Nonaka e Takeuchi em seu livro “Criação de Conhecimento na Empresa”(Campus,1997-RJ) classificaram dois tipos de conhecimentos - o conhecimento tácito, ou inconsciente, e o conhecimento explícito - e exemplificam que o conhecimento advindo da experiência tende a ser tácito, físico e subjetivo, e que o conhecimento da racionalidade tem propensão a ser explícito, metafísico e objetivo.

O conhecimento explícito é aquele formal e sistemático, expresso por números e palavras, facilmente comunicado e compartilhado em dados, informações e modelos. É, portanto, teorizado, abstrato e baseado na racionalidade. Pode ser processado, armazenado e transmitido em textos, livros, apostilas e por computadores. Lembre-se que em seus primeiros passos, a Gestão do Conhecimento tinha forte ênfase na informática, daí a preocupação de posicionar cada um dos tipos de conhecimento em relação aos computadores.

Utilizando a metáfora do iceberg, para o conhecimento, de Nonaka e Takeuchi, o conhecimento explícito representa apenas seu topo visível.

Já o conhecimento tácito é pessoal e complexo, oriundo da experiência e tem uma dimensão contextual. Certamente a visão de mundo, insights e intuição estão nesta categoria de conhecimento. Em geral, é desenvolvido e interiorizado pelo conhecedor, um especialista por exemplo, ao longo de muito tempo de aprendizado, estando de tal forma enraizado na mente de seu possuidor, que torna-se difícil separar as regras desse conhecimento do modo de agir e se comportar do possuidor.

O conhecimento tácito pode ser dividido em Técnico e Cognitivo. Técnico quando descrevendo as habilidades informais do chamado know-how. Cognitivo quando abrangendo os modelos mentais, crenças, percepções, a forma como vemos o mundo a nossa volta. Sua natureza subjetiva e intuitiva torna-o difícil de ser processado ou transmitido por qualquer forma sistemática ou lógica.

O conhecimento tácito para ser eficazmente comunicado, necessita ser traduzido ou explicitado, e aí, por definição, deixa de ser tácito.

Seguindo a metáfora do iceberg, para o conhecimento, de Nonaka e Takeuchi, o conhecimento tácito corresponde à enorme parte submersa no oceano.

Na verdade, o conhecimento precisa ser continuamente criado para garantir à organização uma vantagem competitiva sustentável. Segundo Nonaka e Takeuchi(1997) por geração de conhecimento organizacional deve-se entender a capacidade de uma empresa, como um todo, de criar ou absorver novos conhecimentos, disseminá-los e incorporá-los em seus produtos, serviços e sistemas, obtendo a inovação contínua, que leva à vantagem competitiva.

Talvez a faceta do conhecimento mais difícil de lidar no ambiente empresarial e talvez a que mais implique em real diferenciação competitiva das organizações é a criação do conhecimento, e ela está diretamente relacionado ao conhecimento tácito.

O conhecimento que realmente se traduz em vantagem competitiva nasce ou é absorvido como conhecimento tácito, pois se assim não fosse seria facilmente copiado pelos concorrentes.

Mas há a necessidade de converter conhecimento do plano tácito para o explícito, para que a empresa como um todo possa compreendê-lo e utilizá-lo, e a partir dele criar novos conhecimentos.

Antes de ser explicitado, o conhecimento que constitui diferencial competitivo passa dentro da organização pelo processo de conversão, chamado de socialização, quando é disseminado ainda na forma tácita. Trata-se do processo de compartilhar experiências, criando novo conhecimento tácito como modelos mentais e habilidades técnicas. Pode ser adquirido sem a utilização da linguagem, mas por meio de observação, imitação ou prática.

A chave para adquirir esse conhecimento tácito é o contato com o conhecedor, a vivência, a experiência. O processo de socialização ocorre apenas com relativo sucesso, por exemplo, em práticas de on-the-job training, sessões de brainstorm , contato das áreas de projeto com as áreas de campo, e etc.

Naturalmente, o processo de socialização atinge somente alguns dentro da organização, já que nem todos estão habilitados a absorver corretamente aquele conhecimento tácito, e os que o absorvem, fazem-no de forma absolutamente pessoal.

Para que o conhecimento tácito possa frutificar de forma mais eficiente, atingindo maior número de colaboradores e sofrendo o mínimo de deformação, é necessário passar pelo processo de externalização, quando passa de Tácito para Explícito. Há assim um processo de conceituação, por meio do diálogo ou reflexão coletiva, utilizando raciocínio e intuição. É a essência do processo de criação de conhecimento, quando do tácito passa para o explícito, assumindo formas de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos.

Uma vez transformado em explicito, seja inteiramente ou parcialmente, o conhecimento adquirido vai sofrer o processo de combinação, quando passará de Explícito para Explícito através da sistematização dos conceitos, através de documentos, reuniões, comunicações, banco de dados. A disseminação do conhecimento conduzida na fase de codificação de materiais para a educação corporativa é um bom exemplo desse processo.

Finalmente, quando este conhecimento já está bastante disseminado, sofre um novo processo de conversão que seria a internalização , quando passa do Explícito para o Tácito: é o aprender fazendo, incorporando conhecimento explícito e transformando-o em tácito. Esse processo compreende a criação de novos modelos mentais e know-how. A internalização é facilitada se o conhecimento é verbalizado ou representado em manuais, documentos ou histórias contadas.

Segundo este modelo, conhecido como espiral do conhecimento, a criação do conhecimento na organização dá-se pela contínua interação entre o tático e o explícito e suas formas de conversão, impulsionadas por diferentes fatores.

O importante é criar “mecanismos” para que as idéias que criem vantagem competitiva, quer criadas internamente quer venham do mundo externo, sejam disseminadas assim que surjam na empresa, removendo as barreiras ao conhecimento tácito.

Como provocação sobre o assunto, eu deixo no ar uma pergunta que eu faço em alguns cursos em que leciono : Para que serve um curso, que qualquer um seja capaz de ministrar?

Forte abraço

Fernando Goldman

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Fernando sou estudante de TI e estou aprendendo esta materia que fala sobre Conhecimentos Explícito e Tácito, oque você acha mais importante para você o conhecimentos explícito ou tácito?

Daniele Mattos
daniele.mattos@live.com

Fernando Goldman disse...

Prezada Daniele

Primeiro, é preciso entender que não existem dois tipos de conhecimento. O explicito e o tácito. Todo conhecimento é parte tácito e parte explicitável. A parte explicitável, transformada em informação, é capaz de ajudar outro ser humano a formar seu próprio conhecimento. Embora seja o conhecimento tácito que crie vantagem competitiva, pois o conhecimento explícito é mais fácil de ser copiado, não se pode deixar de dar atenção ao conhecimento explícito. Sem uma boa Gestão da Informação não é possível se fazer Gestão do Conhecimento Organizacional.

O caminho, portanto, é o da síntese.

Forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Fernando
Boa Tarde
Parabéns pela mudança
Vamos ver se traz alguma vantagem para os leitores.
Para mim já traz posts que não havia lido antes.

Lembro que voce também tocou na dita "provocação" em tua apresentação em dezembro passado.
Para mim nem então, nem agora ficou claro a que se referes.
A pergunta pode ser respondida de diversas maneiras.
Se o "qualquer um" for sempre um dos alunos do curso, poderia servir como exercício de fixação.
Se o "qualquer um" for um elemento de certa população,então é conhecimento já pertinente a ela. Mas não esqueçamos que nossa memória é frágil e varia de pessoa a pessoa. Logo há a necessidade de frequentes reforços. As religiões e seitas já descobriram isso faz tempo.....

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Mais a frente a provocação evoluiu.

Veja a postagem http://kmgoldman.blogspot.com/2010/12/prezados-o-nosso-amigo-ferdinand.html.

A ideia principal é que um curso que pode ser dado por qualquer um, está disponível a qualquer um, em um mercado aberto e por isso mesmo não será capaz de por si só criar vantagem competitiva sustentável.

Forte abraço
Fernando Goldman